quarta-feira, 28 de julho de 2010

Adormecido no Vale



de Rimbaud

É uma clareira verde, onde canta um riacho
prendendo alegremente às ervas seus farrapos
prateados; onde o sol da orgulhosa montanha
brilha. É um valezinho a espumar claridades.

Um jovem soldado, a boca aberta e a cabeça
descoberta a molhar-se na erva fresca, azul,
dorme; está estirado ao chão, a céu aberto,
pálido, no seu leito verde, à luz que chora.

Os pés nos lírios roxos, dorme. E sorri como
sorriria uma criança enferma, em sono leve.
Natureza - aconchega-o bem: ele tem frio!

Os perfumes não mais lhe excitam as narinas;
dorme ao sol; tem a mão abandonada ao peito.
Dois rubros orifícios sangram-lhe a direita.


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O Adormecido do vale

Era um recanto onde um regato canta
Doidamente a enredar nas ervas seus pendões
De prata; e onde o sol, no monte que suplanta,
Brilha: um pequeno vale a espumejar clarões.

Jovem soldado, boca aberta, fronte ao vento,
E a refrescar a nuca entre os agriões azuis,
Dorme; estendido sobre as relvas, ao relento,
Branco em seu leito verde onde chovia luz.

Os pés nos juncos, dorme. E sorri no abandono
De uma criança que risse, enferma, no seu sono:
Tem frio, ó Natureza – aquece-o no teu leito.

Os perfumes não mais lhe fremem as narinas;
Dorme ao sol, suas mãos a repousar supinas
Sobre o corpo. E tem dois furos rubros no peito.

Tradução de Ivo Barroso

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É um vão de verdura onde um riacho canta
A espalhar pelas ervas farrapos de prata
Como se delirasse, e o sol da montanha
Num espumar de raios seu clarão desata.

Jovem soldado, boca aberta, a testa nua,
Banhando a nuca em frescas águas azuis,
Dorme estendido e ali sobre a relva flutua,
Frágil, no leito verde onde chove luz.

Com os pés entre os lírios, sorri mansamente
Como sorri no sono um menino doente.
Embala-o, natureza, aquece-o, ele tem frio.

E já não sente o odor das flores, o macio
Da relva. Adormecido, a mão sobre o peito,
Tem dois furos vermelhos do lado direito.

Tradução de Ferreira Gullar

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Le dormeur du val

C'est un trou de verdure où chante une rivière,
Accrochant follement aux herbes des haillons
D'argent ; où le soleil, de la montagne fière,
Luit : c'est un petit val qui mousse de rayons.

Un soldat jeune, bouche ouverte, tête nue,
Et la nuque baignant dans le frais cresson bleu,
Dort ; il est étendu dans l'herbe, sous la nue,
Pâle dans son lit vert où la lumière pleut.

Les pieds dans les glaïeuls, il dort. Souriant comme
Sourirait un enfant malade, il fait un somme :
Nature, berce-le chaudement : il a froid.

Les parfums ne font pas frissonner sa narine ;
Il dort dans le soleil, la main sur sa poitrine,
Tranquille. Il a deux trous rouges au côté droit.


( 1845 / 1891 )

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16 comentários:

Daniel Savio disse...

Realmente o Anima Mundi é algo esperado, pela criatividade que se expoem lá...

E o último filme (Os anjos no meio da praça) ficou interessante.

Fique com Deus, menina Mírian Mondon.
Um abraço.

chica disse...

Lindo poema,Miriam!Vim agradecer tua visita e estou voltando pra valer das férias dia 1/8.um beijo,chica

Mírian Mondon disse...

Oi Chica, estou revisitando os amigos, me isolei ao mudar o url =)
Boas férias pra voce! e até breve!

Rafael Castellar das Neves disse...

Ótimo...muito bem proposto!!

[]s

Sandra disse...

Ola minha doce e amada, amiga.
Neste Adormecido vale, venho lhe fazer um carinho e e convite.

Hoje tem uma coletiva muito especial. E gostaria de deixar este lindo e belo convite para ver quem está lá.
CONVITE SUPER ESPECIAL, PARA ALGUÉM MUITO ESPECIAL..VOCÊ!!!!

Estou participando da coletiva do Blog Espaço Aberto.
Onde o tema é "Sempre amigos".
A tarefa é postar, comentar sobre nossos primeiros comentários, amigos que marcaram, presença na época.
Então, venho lhe convidar para ver quem são os meus primeiros amigos do blog da Interação de Amigos.
Gostaria muito de contar com a sua honrada presença, neste cantinho que é muito especial para mim.
http://sandrarandrade7.blogspot.com/
Sei, que aprendemos muitas coisas nesta blogosfera. Construimos muitas coisas. Muitas dúvidas e perguntas foram feitas, na construção dessa caminhada. Assim como novas dúvidas e perguntas ainda surgiram, nesta longa caminhada.
Vou contar com a sua presença. Vamos recordar um pouquinho do que já passou. Uma boa conversa é uma boa lembrança dos bons momentos.
Amigos para sempre, seram sempre amigos.
Vou te esperar.
Carinhosamente
Sandra

Anônimo disse...

j'ai appris ce poème par coeur dans mon enfance ...c'est un poème déroutant ! Rimbaud aussi evoque la mort sans la nommer !

bises
am

Mírian Mondon disse...

olá Rafael, seja bem vinda por aqui! Obrigada pela visita e volte sempre!

abraços

Mírian Mondon disse...

Sandra, menina carinhosa, obrigada pelo convite e sinto muito por não poder participar, mas no momento estou sem tempo de fato. Mesmo assim obrigada!

beijos

Mírian Mondon disse...

É verdade Anne Marie...
Tenho pensado um pouco mais na morte pela perda de amigos tao jovens, com tantos planos ainda pela frente, mas até agora só perdi pessoas que tenho certeza que vou reencontrar isso faz muita diferença, mesmo sendo triste...

beijos

Sonhos melodias disse...

Lindo poema Mírian!
Como sempre, me emociono a cada leitura daqui.
Bjs

Ester disse...

Oi amore,

lindo de doer esse poema de Rimbaud, cheio de sutilezas e detalhes como uma pintura renascentista, moraria nesse poema para sempre..

bjs!

Mírian Mondon disse...

Oi amore mio, que bom te ver por aqui!
Esse é mesmo um dos mais belos poemas de todos os tempos, e suas palavras acrescentam lhe graça!

beijos

Caroline disse...

Qui l'a traduit c'est toi ?
parceque faire ressentir les émotions dans une autre langue c'est une chose mais en plus notre vision culturelle est parfois tellement différente ....
caro

Daniel Savio disse...

Realmente, ser soldado é um triste oficio, mesmo com bons momentos...

Fique com Deus, menina Mírian Mondon.
Um abraço.

Mírian Mondon disse...

E verdade Daniel, acho tão complicado essa estoria de ser soldado, de pensar em guerra, por outro lado não é possivel não se ter pelo menos uma defesa para nossos países.
O mundo perfeito seria sem guerras, isso é certo!

abraço!

Mírian Mondon disse...

Caro, eu havia respondido sua pergunta mas só agora vi, que a resposta não apareceu aqui! :(
Até coloquei mais traduçoes para nossa comparação, mas a que mais gosto ainda é a primeira que postei cujo autor não conheço infelizmente.

bisous