terça-feira, 9 de março de 2010
O tempo passou...
Recebi esse texto de um amigo e resolvi compartilhar com voces! Uma folga nas traduçoes e momento de colocar o papo em dia :)
" O TEMPO PASSOU E ME FORMEI EM SOLIDÃO"
Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite.
Ninguém avisava nada, o costume era chegar de paraquedas mesmo. E os donos da casa recebiam alegres a visita. Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um.
– Olha o compadre aqui, garoto! Cumprimenta a comadre.
E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a mão dos meus irmãos. Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia.
– Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável!
A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando-nos e olhando a casa do tal compadre. Retratos na parede, flores na mesinha de centro... casa singela e acolhedora. A nossa também era assim.
Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha – geralmente uma das filhas – e dizia:
– Gente, vem aqui pra dentro que o café está na mesa.
Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite... tudo sobre a mesa.
Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também. Pra que televisão? Pra que rua? Pra que droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança... Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam.... era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade...
Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida. Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa.. A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, t ambém ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos... até que sumissem no horizonte da noite.
O tempo passou e me formei em solidão. Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail... Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa:
– Vamos marcar uma saída!... – ninguém quer entrar mais.
Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores.
Casas trancadas.. Pra que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos do leite...
Que saudade do compadre e da comadre!
José Antônio Oliveira de Resende
Professor de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, do Departamento de Letras, Artes e Cultura,
da Universidade Federal de São João del-Rei.
¯`•.¸¸.>
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38 comentários:
Oi, Mirian!
Que bom, vê-la de volta ao mundo bloguístico!
Esse texto eu já o conhecia e é sempre bom relê-lo, pois traz muita lembrança de coisas boas, de um tempo que vivemos e que era tranquilo, mais humanizado, menos modista e, por consequência, mais saudável nas nossas relações.
umbeijo grande carioca
Bom te 'ver' tambem Beth!
Gostei desse texto, a vida moderna tende a nos isolar de fato!
beijos e logo vou lá te ler!
incroyable ce texte ...j'aurais pu l'écrire ...en le lisant je me souviens ...il y a très peu de temps ..nous en parlions d'ailleurs avec ma sœur d'histoires similaires ...
a la ferme, il n'y avait pas de téléphone ..les visites étaient impromptus ..et nous faisions aussi des visites impromptus ...quelle joie de recevoir ! ... Si les visiteurs venaient l'après- midi , ils ne partaient pas sans avoir partagé un casse-croute au moins avec nous ( pain- saucisson-pâte-fromage-beurre-confiture )...bref c'est une histoire de mon enfance ...même les détails me parlent
Oi Mirian! Lindo texto ainda não o conhecia. Ele reflete muito de minha infância também na casa de minha avó. Doces lembranças não?
Bjs
Olá,
Agradeço ter seguido o blog Amoralya.blogspot.com. Neste momento está inactivo.
Volte novamente para o novo blog: "lumynart.blogspot.com".
Breve voltarei.
Grata.
Abraços,
Lumena
Olá Mírian!
Que bom vê-la de volta!
Bons tempos, esses. Hoje só fazem parte de uma pequena realidade das
pequenas "cidades" do interior.
Gente simples, modos simples, feliz
de se viver!
Abços, cara amiga!
Menina, é o texto bom, mas contudo cadê o texto do Principe do Egito?
Fique com Deus, menina Míriam Mondon.
Um abraço.
Míriam,
Belo texto! Serve-me de consolo por saber que não sou só eu que vive 'fora do ar' nesse admirável mundo novo. Junto as minhas saudades engavetadas eu guardo lindas lembranças desse tempo que seu amigo descreveu com tanta delicadeza. Saudades de você!Bjs
Olá! Sou Jefhcardoso e sigo o “Quando era pequeno acreditava que podia voar, cresci descobri a música!”, que é do músico poeta Mateus Araujo. Ali encontrei o seu contato no quadro de seguidores e achei que seria uma oportunidade de divulgar o meu http://jefhcardoso.blogspot.com onde publico os meus poemas, crônicas e contos.
Espero não estar incomodando com este convite de divulgação, se acaso desagradar queira desconsiderar, porém, se acaso interessar faça-me uma visita e terei prazer em retribuir.
Abraço: Jefhcardoso.
Mirian, bom o texto!
Passei para te deixar um beijinho, também ando meio sem tempo para os blogs...
Jana
Um texto magistral pela simplicidade, que em nossos tempos é raridade,
faz bem a alma e ao coração de lembrar de tempos que vão longe..
beijos.~
Ester
mirian tu dors ?
Mirian,
Este texto ns faz refletir sobre uma época mais simples e gostosa de toda uma sociedade que já nao existe mais...
Mas que permanece a amizade em qualquer tempo!
Uma ótima Páscoa para você querida!
Beijos!
Mirian queirda
Que texto lindo do seu amigo!
A mais pura verdade, se formar em solidão é péssimo. Que não fiquemos só nas boas lembranças...
Passei por aqui para te desejar uma Pàscoa linda junto dos teus afetos.
Saudades de ti,
Bj enooorme
Visita meu blog e dá uma força http://whileitlast.blogspot.com/ estou começando. Abraço!
OI Mirian,
Não conhecia o texto e achei lindo. E verdadeiro. Mas sabe, nas cidadezinhas bem interioranas você ainda encontra isso. Não é a toa que as pequenas cidades são tão hospitaleiras. Lá não há tanta agitação. Você consegue saber o nome de quase todos os seus vizinhos. Aparece no fim da tarde para levar "um pedaço de bolo que acabei de fazer" e tomar um café, enfim...coisas boas que cada vez mais vão se perdendo.
Eu, apesar de morar proximo a Grande São Paulo, fico em um bairro mais afastado, quase familiar. E tento cultivar estes costumes com as "mais novas casadas do bairro" já que somos uma turminha de cerca de 10 casais na faixa de 20 a 30 anos. E as visitas de domingo uns as casas do outro pro café, pro papo, é uma delícia. Cabe a gente nao deixar isso acabar totalmente!!!
Beijos
Oi, Mirian,
Que bom te ver novamente por aqui!
O texto deste professor me tocou muito pois é tudo o que temos vivenciado ultimamente. E eu sou do tipo que não gosto da solidão.
Infelizmente visitas como essas do compadre e da comadre estão em extinção, e por mais difícil que seja, temos de tentar nos rebelar contra essa solidão que nos tem sido imposta... Só não sei definir direito por quem... pelo mundo moderno? Ou seria uma outra desculpa?
Beijos,
SAUDADES...SAUDADES!!!!!
VENHO RETRIBUIR CARINHOSAMENTE O SEU CARINHO. DIZER QUE MINHA AUSENCA É EM FUNÇÃO DO MEU TRABALHO..ESTOU TRABALHANDO NOS TRÊS PERÍODOS.
SEM TEMPO DE BLOGAR. SOMENTE NOS FINAIS DE SEMANA, SE POSSIVEL.
MUITO OBRIGADA AMIGO.
PEQUE O SEU SELO OURO NO BLOG
http://sandraandrade7.blogspot.com/
ELE FICARÁ LÁ TE ESPERANDO.
CARINHOSAMENTE
SANDRA
SE FOR POSSIVEL VISITA INTERAÇÃO DE AMIGOS.BOM FINAL DE SEMANA.
ATÉ MAIS
Anne Marie,
Incrivel pensar que uma realidade tão brasileira, faça eco na sua realidade de francesa... algumas experiencias essenciais são mesmo universais... ou quase universais =)
bisous
É verdade Roseli,
Mesmo quem foi criado em grandes cidades como nós, conhece essa realidade em certo nivel, a casa da avo, o tempo na fazenda...
beijos
Lumena,
Obrigada pela visita!
Oi Paulo,
Que bom te rever!
Oi Paulo,
Que bom te rever!
Oi Paulo,
Que bom te rever!
Daniel tudo bem?
Eu ja publiquei o Principe do Egito faz tempo! =)
beijos
Julieta que bom te rever, tambem sinto falta de voce e do seu espaço tao especial.
Estou voltando =)
beijos
Ola Jefh, vou te visitar sim, em breve.
abracos
Oi Janaina,
Logo vou lá te ver!
bjs
Como é bom te ver por aqui Ester!
beijos
Salut Caro,
Nao estou dormindo nao, ou tavez esteja num certo sentido =)
bisous
Fatima, saudades!
beijos
Fatima, saudades!
beijos
Wania, nao me esqueço de voces nao, logo estarei lá no seu espaço poetico matando saudades.
beijos
Maxx, vou lá sim, em breve!
Que delicia Lu, me alegra saber que podemos resgatar o essencial, manter, ou refazer coisas simples que dáo mais sentido a vida! Muito legal a experiencia de voces!
Parabens!
Oi Sonia,
Sem duvida a vida moderna nos isola.Vivemos tão cansados, tao apaticos e as vezes se instala um egoismo tambem. Mas voce tem razao quando fala em desculpa, como a Lu Souza falou, dá para resgatar o humano, o que conta!
beijos
Oi Sandra obrigada pela visita!
beijos
Texto maravilhoso, obrigado Mírian por posta-lo.
Sou desse tempo e agora me recinto dessa falta de confraternização.Todos tem uma porção de compromissos, a vida continua e vamos nos falando via celuar, e-mail, orkut, blog....etc.
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