quarta-feira, 21 de julho de 2010

Sobre o Tempo e as Jabuticabas



Rubem Alves

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui
para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que
ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente,
mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em
reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para
projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que
estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo.

Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a
proposta de abalar o milênio. Já não tenho tempo para reuniões
intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e
regimentos internos. Já não tenho tempo para administrar melindres de
pessoas, que, apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver
os ponteiros do relógio avançando
em reuniões de "confrontação", onde "tiramos fatos a limpo". Detesto
fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de
secretário geral do coral. Lembrei-me agora de Mário de Andrade que
afirmou: "as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos". Meu
tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha
alma tem pressa…

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,
muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com
triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua
mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão
somente andar ao lado de Deus. Caminhar perto de coisas e pessoas de
verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será
perda de tempo.

O essencial faz a vida valer a pena.

¯`•.¸¸.>

Enviado por Andrea Diniz

13 comentários:

Anônimo disse...

ce texte est trop juste ..
il 'y a plus de place pour perdre du temps avec des futilités ...
et en même temps cela m'attriste un peu que les jabuticabas dans notre panier commencent a se rarefier !

tu peux me traduire cela:
"gabolices"
"estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo"
"secretário geral do coral"
"debater rótulos".
------------------------------
autres question étrange :) et HORS sujet - il y a un noyau dans les jabuticaba ?
j'aime beaucoup tout ce qu'evoquent les jabuticaba
deja le nom : sympa- amusant pour sa sonorité ..et associés a des souvenirs au Bresil ...
souvenir des vendeurs de jabuticabas a belo horizonte ..et des rues tachées de fruits écrasés
... je viens de découvrir que les fruits poussent sur le tronc de l'arbre ...en voulant vérifier s'il y avait un noyau dans ces fruits :) ...
bisous
Am

Mírian Mondon disse...

Verdade, muito real esse texto do grande e sábio Rubem Alves.
Concordo com ele mesmo tendo essa sensaçao mesmo quando minha bacia ainda estava cheia =) mas claro que com o passar do tempo isso vai ficando mais real e urgente.

Comecei a ter lampejos dessa realidade quando o filho de uma amiga foi atropelado, ele tinha 9 anos, e jamais imaginei que ele fosse morrer antes de mim. Esse não saber o dia, me deu outra perspectiva sobre a importancia de viver com significado.

Mas é facil perder essa nocao no dia dia, até que algum outro episodio venha nos lembrar.

Gabolices é um termo antigo para dizer 'se vanter' .

Estabelecer prazo fixo para reverter a miseria,seria ter data determinada para mudar o mundo.

Secretario geral do coral, seria o presidente do coral. Ou seja um titulo pomposo para uma função simples. Seria mais ou menos como dizer Je suis le PDG de la choral du quartier.

Debater rótulos nesse contexto, seria tratar do superficial, 'classer les choses' em vez de analisar em profundidade.

E por fim a jabuticaba tem sim uma semente no seu interior =)
Tambem tenho essa lembrança das jaabuticabas pelo chão de BH, e tambem a paixao da minha mãe pelas jabuticabeiras. Ela tinha uma no quintal.
Sempre me fascinou essas frutinhas coladas nos troncos, como um pequeno milagre da natureza.

bisous

Jean-Louis disse...

Une autre voix dans le desert prechant sous la chaleur aux grains de sable dans l'immensite de cet ocean en mouvement perpetuel. Si seulement tous ces grains separes, forts de leurs accomplissements au detriment des contribuables qui eux travaillent et produisent, se laissaient cuire par la chaleur du soleil et partageaient vraiment la souffrance humaine en vraie solidarite au lieu de se gargariser de vaines platitudes dans des comites, et de rentrer satisfaits et alienes dans le confort de leur maison, ils decouvriraient qu'ils pourraient se laisser transformer en un vase pret a recueillir l'essentiel de la vie qui pourraient rafraichir les ames languissantes et assoiffees d'amour de verite et de grace menant a la vie eternelle.
Merci Mirain de repasser ce beau texte.
Jean-Louis.

Anônimo disse...

Tres beau et tres juste aussi!
bisous

Mirian

Anônimo disse...

Tres beau et tres juste aussi!
bisous

Mirian

Anônimo disse...

Tres beau et tres juste aussi!
bisous

Mirian

Anônimo disse...

Tres beau et tres juste aussi!
bisous

Mirian

Anônimo disse...

Ai ai ai

Essa postagem esta com problemas,
Já é a segunda vez que tenho dificuldades de postar aqui hoje e só esta sendo possivel como ANONIMO
tambem não estou conseguindo deletar os posts REPETIDOS, não sei o porque disso!

Abraços a todos!
Mirian

Sandra disse...

Amiga,
Rubem Alves é simplesmente fantástico. Como é bom ler suas crônicas, seus trabalhos seus livros. São experiências passadas com muito carinho. Um excelente profissionla.
Carinhosamente,
Sandra
http://sandrarandrade7.blogspot.com/2010/07/um-carinho-muito-especial.html
Fique com Deus..

Mírian Mondon disse...

ah Sandra que bom que voce conseguiu escrever, será que ja voltou a funcinar?

vou fazer um teste! beijos

Mírian Mondon disse...

iewwwww, funcionou!!!

Daniel Savio disse...

Nçao importa quantos anos vivemos, mas sim como vivemos os nossos anos...

Fique com Deus, menina Mirian.
Um abraço.

Mírian Mondon disse...

É verdade Daniel, tenho pensado nisso exatamente!

abraços