quarta-feira, 28 de julho de 2010

A rua das rimas


Guilherme de Almeida

A rua que eu imagino,
desde menino,
para o meu destino pequenino
é uma rua de poeta,
reta, quieta, discreta,
direita, estreita,
bem feita, perfeita,
com pregões matinais de jornais,
aventais nos portais,
animais e varais nos quintais;
e acácias paralelas,
todas elas belas,
singelas, amarelas,
douradas, descabeladas,
debruçadas como namoradas
para as calçadas;
e um passo, de espaço a espaço,
no mormaço de aço baço e lasso;
e algum piano provinciano,
quotidiano, desumano,
mas brando e brando,
soltando, de vez em quando,
na luz rara de opala de uma sala
uma escala clara que embala;
e, no ar de uma tarde que arde,
o alarde das crianças do arrabalde;
e de noite, no ócio capadócio,
junto aos lampiões espiões,
os bordões dos violões;
e a serenata ao luar de prata (
Mulata ingrata que mata...);
e depois o silêncio,
o denso, o intenso,
o imenso silêncio...

A rua que eu imagino, desde menino,
para o meu destino pequenino
é uma rua qualquer onde desfolha
um malmequer uma mulher
que bem me quer
é uma rua, como todas as ruas,
com suas duas calças nuas,
correndo paralelamente,
como a sorte diferente de toda gente,
para a frente,
para o infinito;
mas uma rua que tem escrito um nome bonito,
bendito, que sempre repito
e que rima com mocidade, liberdade,
tranqüilidade:
RUA DA FELICIDADE

2 comentários:

Daniel Savio disse...

E diria que não importa como seja a rua, mas sim que ela encerre a felicidade, mas o fim do texto diz tudo...

Fique com Deus, menina Mírian Mondon.
Um abraço.

Mírian Mondon disse...

Interessante esse poema não Daniel Savio? O melhor lugar do mundo é onde somos felizes =)

abracos